"Antigamente, na
época em que as meninas casavam virgens, o pudor não dizia nada sobre como agir
em relação aos negros – lá pelos séculos XV, XVI e XVII, na época da
escravidão, quando era comum, talvez até celebrado, o método do espancamento
dos servis como forma de “exemplo” para os outros. No livro “O Guardião de
Livros”, de Cristina Kace Norton, no entanto, um escravo cria tal relação de
entendimento com o seu “dono”, o seu patrão, que este o alfabetiza, o
“civiliza” e com ele estabelece uma relação de amizade – ou não. Ao final do
livro, temos um escravo que imita o chefe em tudo, o admira profundamente e é
apaixonado por ele, chegando a acabar com a sua vida quando a de seu amo, homem
casado, de família, chega ao fim. E o livro é baseado em fatos verídicos.
O comércio de
escravos entre Portugal, Brasil e África, que vinha da expansão marítima
europeia, implantou, de modo forçado, milhares de negros africanos que para cá
vinham em péssimas condições, muitos morrendo no trajeto. Ainda assim, à parte
das revoluções, quilombos e outros casos, se submetiam a estes maus tratos.
Então a pergunta é: Por que, hoje em dia, o racismo de brancos para com negros
é varias vezes superior ao de negros para brancos, quando estes têm muito mais
motivos para o rancor e a vingança?
Ora, nos Estados
Unidos da América também houve escravidão e a situação foi muito pior. Afinal,
todos nós conhecemos as histórias do Ku Klux Klan, segregação social, Martin
Luther King e Rosa Parks e todos os relatos assombrosos de violência. Até hoje
o país não é tão receptivo às pessoas de cor. O que foi diferente aqui no
Brasil? O que trouxe essa iniciativa governamental, cultural e educacional para
a aceitação dos negros e pardos?
Exatamente isso. A
iniciativa. De uns anos para cá, o discurso politicamente correto vem se
popularizando, e o pudor do qual falamos no início agora valoriza a
discriminação enrustida, calada, fechada. Os chefes de trabalho cosmopolitas
conservadores descartam rapidamente a existência de tal calúnia, mas nunca
empregariam um negro como vice da companhia. Com que frequência você vê um
médico negro? Um diretor de escola, um arquiteto ilustre, um doutor em
psicologia? Nessas andanças especulativas, algumas faculdades implantaram o
sistema de cotas para negros e pardos, outro assunto polêmico. Ou “pretos”.
Alguém já resolveu perguntar às pessoas de cor como elas se sentem ao ser
chamadas de pretas? Talvez se o termo não fosse empregado de forma tão
pejorativa na sociedade, pudesse se tratar até de uma forma poética de falar,
mas agora já se criou o estereótipo.
Ah, os estereótipos.
Com qual você associa os negros? Pobres, marginais, com baixa escolaridade...
São vários. Perguntaram, na França, a uma senhora idosa o que ela pensaria se
visse um negro a encará-la. Ela respondeu prontamente que pensaria que se
tratasse de um sequestrador, assassino ou estuprador. No entanto, ao lhe
fazerem a mesma pergunta em relação a um branco, a resposta foi simplesmente
psicopata. Percebe como, mesmo ambas as etnias sendo acusadas de crimes hediondos,
o branco tem menos acusações na conta? Nós mesmos temos mais “pré-conceitos” do
que qualquer coisa!
No meio histórico,
talvez o fato de a Princesa Isabel, a própria, ter assinado a Lei Áurea, tenha
incentivado mais pessoas das classes altas a abraçarem o antirracismo, enquanto
a voz da rebelião nos Estados Unidos partiu, inicial e principalmente, do povo.
É tudo muito subjetivo e relativo. Mas ainda averiguando o passado, a
libertação dos escravos não foi de todo boa, já que o governo não providenciou
novos empregos, moradias e pensamentos no Brasil. E nenhum dos empregadores
queria um negro trabalhando em seu armazém de respeito. Daí viria para as
pessoas de cor a raiz dos estereótipos de miséria, pobreza e analfabetismo que
realmente aconteceram e aos quais as pessoas remetem.
Mas, se pararmos
para pensar e analisar bem, a base de todos os problemas do nosso país
verde-amarelo retoma a educação. Nos jovens encontramos um novo despertar, um
novo alvorecer de idéias que prometem a diferença – ou, a não diferença entre brancos, negros e pardos. Esse despertar só
seria mais acentuado se houvesse um investimento em massa nesse setor por parte
do governo, com prósperos resultados em 10 ou 20 anos. Só que qual é o político
que quer implantar medidas que só mostrarão bons resultados em 10 ou 20 anos?
Eles querem resultados em quatro, quando o povo poderá dizer que fizeram algo
e, assim, reelegê-los. É claro. Assim é muito fácil.
Só que já está na
hora do povo brasileiro fazer a escolha; entre o que é certo e o que é fácil.
Está na hora de, assim como voltamos no tempo para encontrar os estereótipos
nos quais nos baseamos, voltar e reencontrar as idéias do iluminismo europeu,
que inspirou a inconfidência mineira aqui no Brasil, e levantar a bandeira dos
pensadores iluministas da liberdade, igualdade e fraternidade."
Dissertação da aluna Clara Suit Queiroz.
O texto está muito bem escrito e é realmente triste saber que ainda hoje nós temos esse preconceito derivado das coisas que aconteceram no passado. O Brasil tem um histórico com indícios muito inferiores ao preconceito, se comparado aos Estados Unidos da América, onde os negros eram proibidos de sentar nos mesmos lugares dos brancos - todos sabemos a história de Rosa Parks -, mas em ambos os países ainda existe muito pelo o que lutar e muitas coisas para mudar em relação ao racismo e o preconceito de um modo geral.
ResponderExcluir- Camila Torres