quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Revolta dos Malês.



REVOLTA DOS MALÊS

Luta de escravos muçulmanos inspirou o movimento negro contemporâneo
Considerada uma das mais importantes manifestações dos negros escravizados no início do século XIX, a Revolta dos Malês já está perto de completar 200 anos.Consagrada como uma luta política pelo respeito à liberdade, à cultura e contra a imposição do catolicismo durante o período colonial. A data, definida pelos revoltosos, coincidia com o Ramadã, fim do mês sagrado muçulmano.
Planejado por africanos islâmicos, de origem haussá e nagô, o movimento chegou a reunir 600 integrantes. Os líderes eram chamados de “negros de ganho”, escravos que podiam circular pela cidade realizando pequenos trabalhos remunerados. Além disso, tinham a vantagem de saber ler e escrever em árabe, o que ajudava nas trocas de informações. O objetivo era libertar os negros e matar os brancos e mulatos considerados traidores. O pesquisador João José Reis diz que “se o levante tivesse sido um sucesso, a Bahia malê seria uma nação controlada pelos africanos, tendo à frente os muçulmanos.
Próximo ao dia do levante, negros de diversos lugares do Recôncavo Baiano começaram a vir para Salvador, mas as autoridades souberam do plano após a denúncia de uma escrava. A polícia invadiu um dos lugares onde ocorriam os encontros e reuniões dos islâmicos. Os malês conseguiram fugir e reuniram um grupo para atacar a prisão do quartel no prédio da Câmara Municipal. Para Hamilton Borges, do Movimento Negro Unificado, os malês acreditavam que era possível aos negros da Bahia uma articulação contra a escravidão. “Isso é inspirador ao movimento negro no país, a importância da revolta para a atualidade é exatamente a de lutar contra o preconceito e nos incluir na sociedade” diz Hamilton.

Repressão
A revolta tomou a cidade de forma desorganizada, mas havia um número muito maior de soldados bem armados, o que provocou um massacre. Os registros da época afirmam que 70 escravos e 7 policiais morreram no confronto. Centenas de malês foram presos e condenados à morte, castigados ou enviados de volta para África, com a Corte Portuguesa proibindo a transferência de escravos da Bahia para qualquer outro local do Brasil. Apesar da derrota imposta aos insurgentes, a revolta serviu de inspiração para as lutas contra a escravidão e para outros processos abolicionistas que culminaram com a Lei Áurea de 1888.

Fim da revolta
 Uma mulher contou o plano da revolta para um Juiz de Paz de Salvador. Os soldados das forças oficiais conseguiram reprimir a revolta. Bem preparados e armados, os soldados cercaram os revoltosos na região da Água dos Meninos. Violentos combates aconteceram. No conflito morreram sete soldados e setenta revoltosos. Cerca de 200 integrantes da revolta foram presos pelas forças oficiais. Todos foram julgados pelos tribunais. Os líderes foram condenados a pena de morte. Os outros revoltosos foram condenados a trabalhos forçados, açoites e degredo (enviados para a África).

O governo local, para evitar outras revoltas do tipo, decretou leis proibindo a circulação de muçulmanos no período da noite bem como a prática de suas cerimônias religiosas.
Curiosidades:
-Dia 25 de janeiro de 1835, foi a data escolhida para a rebelião eclodir. A escolha não foi aleatória. Na época este dia era dedicado a homenagens a Nossa Senhora da Guia, cujos festejos fazia parte do ciclo do Senhor do Bonfim, que tradicionalmente atraia multidões para o setor rural, cenário dos festejos. Incluía-se nesta multidão os senhores de engenho e boa parte do policiamento da cidade.
- O termo “malê” é de origem africana  (ioruba) e significa “o muçulmano”.
-Entre os pertences dos líderes foram encontrados livros em árabe e orações muçulmanas.

Notícias

O Fórum Social Temático abriu espaço para o debate que envolve a questão histórica com a explanação sobre a Revolta dos Malês. Ocorrida no ginásio de esportes do Sindicato dos Bancários da Bahia, a mesa estava composta pelo historiador Ubiratan Castro; a secretária nacional da Promoção da Igualdade Racial, Valquíria Silva; o coordenador geral da Unegro, Edson França; o presidente da CTB-Bahia, Adilson Araújo, e do Sheikh Abdul Hameed Ahmad, do Centro de Cultura Islâmica da Bahia.
Para o historiador Ubiratan Castro, a Revolta dos Malês, ocorrida em 1835, é de extrema importância para a história do Brasil, não somente pelo seu caráter religioso, mas por trazer em suas características um “plano” de como proceder após a revolta. “Os malês trouxeram consigo uma política negra”, afirma Ubiratan Castro. Essa política, segundo o professor, trazia uma hierarquia, queria revirar a sociedade.
Outra questão interessante abordada pelo professor é a ligação religiosa, principalmente com o Islã. Do Islã, a Bahia herdou à tradição de vestir branco as sextas-feiras, dia de guarda do Islã. No entanto, os malês eram mulçumanos solidários com as outras tradições, inclusive com o Candomblé, onde se misturavam nas irmandades.
Fontes: Aqui, Aqui, Aqui.

Um comentário:

  1. A Revolta dos Malês tem como base de sua importância a articulação e ousadia de seus participantes: libertos e escravos negros. O seu objetivo, que era dominar a cidade de Salvador, expulsar os brancos, tornando o local um reduto para os negros africanos. Aqui vale a pena destacar que os crioulos e pardos nascidos no Brasil também eram tidos como inimigos pelos rebeldes africanos.
    E, por fim, a sua mensagem, que ecoa um grito já proferido muitas vezes por todos os cantos do Brasil na época: Não importava o número de correntes ou punições, os negros nunca se rebaixariam ao nível submissivo que os senhores almejavam; ao invés disso, não descansariam em sua luta para conquistar aquilo que já deveria ser seu direito natural : a própria liberdade.
    Letícia Helena 8ªA

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